Evento em Belém expõe contradições entre o discurso ambiental e a realidade econômica, mas também revela o papel histórico que o Brasil pode exercer na transição ecológica global
Belém, capital da Amazônia, se prepara para sediar a COP30, a conferência climática mais importante da história recente do Brasil. O evento, que reunirá líderes de todo o mundo, tem potencial para marcar uma virada na diplomacia ambiental, conectando a transição ecológica global à realidade amazônica.
Mas o cenário local revela contradições. A expectativa de progresso convive com distorções econômicas e sociais. A diária de um hotel que custava R$ 208 saltou para R$ 1.500, enquanto trabalhadores seguem sem ganhos proporcionais. Restaurantes, transportes e serviços turísticos registram aumentos expressivos, e a especulação imobiliária pressiona moradores e pequenos negócios.
De acordo com a Transparência Internacional, dos R$ 2,8 bilhões previstos em obras relacionadas à COP30, apenas uma parte tem dados públicos sobre licenças e contratos. A promessa de desenvolvimento divide espaço com preocupações sobre desigualdade e transparência.
“Belém deveria ser símbolo de esperança, mas tornou-se espelho das nossas contradições”, resume Marcelo Souza. “Falamos de transição energética, mas seguimos aprovando novos blocos de petróleo. Discutimos sustentabilidade enquanto desmatamos para abrir estradas.”
Os recentes desastres climáticos — enchentes no Rio Grande do Sul, tornado no Paraná e ondas de calor no Sudeste — reforçam o alerta: o planeta não precisa da humanidade; é a humanidade que precisa dele. “A natureza é capaz de se regenerar; nós talvez não tenhamos o mesmo tempo”, reflete Marcelo.
A direção da esperança
Apesar dos desafios, a COP30 ainda pode representar uma virada real. O Brasil tem a chance de exercer um papel histórico como mediador global — articulando interesses entre o Norte e o Sul e unindo economia e natureza sob uma agenda comum.
O país reúne credenciais únicas: biodiversidade, matriz energética renovável, força agrícola e liderança diplomática. Essa combinação legitima o Brasil para propor pontes e liderar um pacto climático mais justo.
Entre os objetivos centrais da conferência estão:
• Acelerar a transição energética global e a descarbonização;
• Criar mecanismos de financiamento climático para países em desenvolvimento;
• Estabelecer acordos sobre perdas e danos ambientais;
• Ampliar compromissos de redução de emissões;
• Fortalecer a cooperação entre cidades e governos locais;
• Definir diretrizes de economia circular e uso sustentável de recursos;
• Garantir inclusão e representatividade de povos tradicionais e comunidades indígenas.
Esses pontos podem transformar Belém em marco de um novo modelo global, no qual a sustentabilidade deixa de ser discurso e se torna base de desenvolvimento.
Um papel histórico para o Brasil
A COP30 será lembrada não apenas pela localização, mas pelo papel que o Brasil decidir desempenhar. Se o país souber unir diplomacia ambiental e potencial tecnológico, poderá mostrar ao mundo que é possível crescer e preservar.
Para isso, é essencial que o legado econômico alcance os trabalhadores, que as obras tenham utilidade pública duradoura e que o discurso ambiental se converta em políticas efetivas. O turismo verde deve gerar inclusão social, e a Amazônia precisa ser protagonista, não cenário.
“O verdadeiro legado da COP30 deve ser a coerência”, afirma Marcelo Souza. “Não se trata apenas de sediar uma conferência, mas de mostrar que o Brasil pode liderar pelo exemplo — transformando resíduos em recursos e alinhando desenvolvimento com respeito ambiental.”
Belém pode ser lembrada não pelas diárias inflacionadas, mas por um pacto que uniu o país em torno de um novo caminho. Um caminho onde o inconformismo se torna motor da esperança e onde o Brasil decide mudar de rota — não para salvar o planeta, mas para não deixá-lo bravo conosco.
Trajetória da Indústria Fox:
Fundada em 2009, a Fox iniciou sua atuação com a missão pioneira de reciclar refrigeradores na América do Sul, assegurando o tratamento correto de gases nocivos ao clima. No ano seguinte, inaugurou sua primeira unidade em Cabreúva (SP) e desde então expandiu suas frentes de atuação para logística reversa, eficiência energética, manutenção e remanufatura de equipamentos.
Com investimento contínuo em tecnologia própria, a empresa se tornou referência em economia circular, mineração urbana e sustentabilidade, desenvolvendo soluções em reciclagem, novos produtos, publicações científicas e processos de reaproveitamento de materiais.
A maior recicladora de eletroeletrônicos da América Latina, inaugurou em 10 de setembro de 2025, em Campinas (SP), sua mais nova unidade fabril. Com capacidade instalada superior a 100 mil toneladas por ano, a nova planta consolida a Fox como destaque internacional em inovação sustentável. O investimento, de aproximadamente R$ 170 milhões.

Sobre Marcelo Souza:
Presidente do INEC – Instituto de Economia Circular
CEO da Indústria Fox
Engenheiro químico, especialista em Economia Circular e atua em diretorias do CIESP e da Fiesp. Professor da PUC-Campinas, e autor de três livros, incluindo a antologia Reciclagem de A a Z.
Fonte: Redação









